terça-feira, 17 de agosto de 2010

Vampiro


Início de minha transformação. O dia certo não me recordo, sei que tu estavas presente, isso é um fato quase que óbvio, pois tu és a culpada, ou melhor, o motivo, de minha transformação, talvez tu penses que nada fez. E de forma serena eu te digo, que sim tu fez, fez eu me apaixonar por você, e sem indícios de um momento tempestuoso nos sentimentos, tu sumiste. Sem sequer dizer que acabou, sem sequer olhar em meus olhos e seguidamente abaixar o olhar, com aquela expressão que revela uma profunda tristeza, nada disso existiu, apenas o que houve foi um beijo de boa noite em meu pescoço, e só, sumiste para sempre durante algumas semanas, e isso não foi uma contradição, sim uma colocação, pois fiquei sem vê-la durante uma, duas ou cinco semanas talvez, porém, quando tu voltastes não era mais a mesma, não me enxergava mais, até que enxergava, mas não me via, portanto, desde aquele beijo de boa noite, até os dias de hoje, tu sumistes de minha vida, e para mim isto é pra sempre. Foi assim, após aquela noite, daquele dia, que me tornei um vampiro. Hoje troco a noite pelo dia, pois é na noite em que a lua aparece, e ela possui uma beleza indescritível, que me faz lembrar dos seus olhos, e em cada estrela que brilha, interpreto como se fosse o brilho de seu olhar, e se vejo uma estrela cadente, é como se o céu estivesse sorrindo para mim, assim como tu sorrias. Isso vem tomando grande parte de meu tempo, encomendei até um telescópio para poder ficar horas olhando profundamente para o seu “olhar”.

Como todo vampiro, já não consigo mais ver-me no espelho, pois sempre que fico em frente à um, rapidamente é direcionada minha visão para dentro de meus olhos, e ao fundo dessas pequenas bolinhas pretas, vejo com limpidez, você dormindo em um sono tão profundo, e como sempre acontecia, eu hipnotizo-me ao vê-la dormindo, e sem desviar sequer um momento minha atenção em você, fico vidrado te admirando dormir, assim, não consigo mais observar à mim, sempre, sempre e sempre só vejo você.

Em todas as madrugadas embriago-me com vinhos, todos eles tintos, as vezes são eles suaves, para aquelas noite tranqüilas, e em outras vezes são secos, para noites imersas na nostalgia. Em cada copo, em cada gole de vinho, sinto-me como se estivesse alimentando-me com cada gota de sangue da solidão, são esses vinhos que fazem meu coração pulsar mais forte, assim como pulsava quando beijava ardentemente seus sensíveis lábios, e por sentir seu sabor em cada lágrima de vinho, fico totalmente inebrio todas as noites, pois iludo-me em estar sentindo você.

Não sei se é mal… ou bem de todo vampiro, mas como todos conhecem a lenda, vampiros possuem um poder intenso de sedução, e após me tornar um deles, não sei em exato o por que, mas estou altamente sedutor,a ponto de seduzir com apenas um olhar, um nível de persuasão incompatível, no qual, nunca tive antes, mas isso é em vão, pois ao seduzir e conquistar minhas vítimas, relaciono-me com grande fervor, porém nada sinto, a não ser nos beijos o seu gosto e no sexo o seu cheiro, é uma sedução que não atribuo grande valor, a não ser se ela funcionasse com você.

Fiz de uma rede, que está pendurada em minha varanda, meu luxuoso caixão, onde em noites de inverno, verão, primavera ou outono, é onde durmo, seja com o frio ou com o calor, ali que te encontro realmente, no momento que fecho meus olhos, pois neste “caixão”, posso dormir com o som que sopra o vento, que simula sua voz cantando para mim, as mais lindas,encantadoras e agradáveis canções, não que elas sejam de fato tudo isso que proferi, mas só por estarem sendo cantadas por sua voz, elas tornam-se as mais admiráveis canções, e é ele, o rei da liberdade, conhecido como vento, que plagia identicamente a sua voz, até mesmo os suspiros de respiração, e é com estas canções cantadas por ele, que durmo todas as noites.

E se em algum dia tu sentires minha falta e quiseres matar este vampiro que nasceu em mim, pegue a estaca que guardas dentro de ti,que foi feita com todo o seu amor, sua paixão, seu carinho, suas angústias, seus segredos, e seus sonhos, e sugiro que levemente, afunde-a em meu coração, olhando dentro de meus olhos, pois só assim voltarei um dia a ser HUMANO.

Enquanto este dia não chega, estou indo agora para meu “caixão”, pois o dia já está para amanhecer.

E ao dormir, sendo acalentado pela neblina, te verei em breve, em meu sonho, no qual, já o considero uma rotina, pois nunca muda sequer a cor do vestido que te encontro, mas sobre este sonho eu te conto em uma outra noite.
                      Efêmero dos Devaneios

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